segunda-feira, 9 de junho de 2014

Inomináveis

Faz tempo que não venho aqui. Por um tempo, tudo parecia estar na órbita certa e, então, já não sei mais. Não sei mesmo. Como nomear, o que sentir, o que buscar. Eu posso até "mergulhar na dor", mas será que todos os problemas são doloridos assim? Eu queria tanto ter meus momentos como pessoa inteira, "estar" neles. Viver ao vida ao invés de pensar sobre ela. Valorizar o que me é próprio e não desgostar-me apenas. Repúdio. Ah, é tão triste. Eu queria me sentir amada. Que tal começar por mim mesma?

domingo, 4 de maio de 2014

Maio

Quatro de maio. Terminar um livro. Não qualquer um. Chocolat. Parece apropriado, sob o sol que entra pela janela do meu quarto de manhã. Sentia que já precisava terminar, acho que nunca acabei tão tarde. E de dia, embora a pequena angústia do fim fique por um tempo, ela tem mais distrações do que se diluir do que na solidão da noite. Fiquei satisfeita por ter continuado este ano, e não ficado pela metade como no ano passado. Além disso, justamente agora, os dias se encaixavam perfeitamente em seus números e nomes. De certo modo, foi como reviver o que passou voando e despercebido em minha realidade mecânica.
Hoje, eu não queria acordar para o último dia do feriado. Consola-me voltar em tão pouco tempo, mas isso só é possível por conta do adiamento do show. Fiquei sabendo ontem e confirmei hoje, após minha leitura. Não sei o que sentir. Parecia que eu tinha um prazo de validade para emagrecer e mudar de várias maneiras, e depois disso, bem, não havia depois. Agora, esse prazo se estendeu para muito, muito longe. Fico pensando em tudo o que pode acontecer até lá. Com algum desgosto, penso também que as coisas podem não mudar muito. Definitivamente, não posso deixar essa segunda opção se concretizar, seria muito frustrante. Mais irônico seria se o show tivesse mudado para setembro, não outubro.  Enfim, alívio e tristeza, talvez. Mais não sei.
Fico na dúvida se ser fiel a mim mesma é ceder às vontades (e comodismos) do presente ou permanecer no planejado. Lembro-me de ontem, a ida em vão para ver os balões. Não foi dessa vez que presenciei um night glow completo. Apenas um restou, oscilando em sua luminosidade e caindo aos poucos. Apesar disso, mais valeu a força de vontade. Talvez eu devesse pensar nisso. Ou não. E apenas sentir.

Sinto-me pronta para o sapatinhos vermelhos.

terça-feira, 29 de abril de 2014

Sonho

Já para o fim, abril assume suas mais costumeiras formas. Céu de um azul muito intenso (inquebrantável, por vezes), frio inesperado e um sol pálido. Eu gosto disso. Chegou de surpresa, então, nos primeiros segundos, estive relutante. Depois lembrei-me que tenho estado assim em relação a muitas coisas na vida. Não sei o que houve. Vinha levando uma vida tão leve e agora, ao mínimo sinal de cobrança, tudo desaba, acelera, parece insuficiente e o relógio tiquetaqueia ferozmente. Sonhei com o mercado. Aquele que vende de tudo. É difícil encontrar as coisas nele e causa certa aflição andar pelos corredores com prateleiras altas e abarrotadas. Estava mais cheio do que da outra vez, mas o tempo, o tempo está sempre escasso. Procurava algum caderno, mas nada que eu realmente precisasse. Mas me sentia desconfortável com tantas pessoas por perto para vasculhar aquelas prateleiras bagunçadas em paz. Acho que havia crianças por perto, o que dobrava meu incômodo. Por fim, acabei achando, na sessão de bijuterias, uma caixinha que parecia de óculos, encapada em veludo rosê e com um ornamento do lado interior da tampa. Era dourado e parecia um óculos num formato meio inusitado. E só. Aparentemente sem graça. Mas ao se retirar o fundo falso, vários colares lindos. Delicados e de ótima qualidade, eu sabia. Todos dourados, exceto um. Não me recordo bem, acho que era o que tinha o pingente com a silhueta de uma folha de árvore, com as ramificações e tudo. Parecia-se aquele colar que minha mãe tem, lembrei-me no sonho. (De fato, ela realmente tem esse colar). Havia outros: pequenas borboletas, emaranhadas em tantos cordões finos e banhado a outro. Bolinhas, se não me engano. E outros mais. Estavam nítidos em minha mente quando acordei, mas agora... Estavam emaranhados, mas nada que não pudesse ser separado por tranquilidade. Seus tons de dourado diferiam um pouco. Alguns mais brilhantes, outros mais foscos e tendendo para o cobre. Ah, sim, havia um colar com um pingente de bolinha fosca com ornamentos em dourado brilhante. Exatamente igual à minha pulseira, que estava em casa. Mas identifiquei essa semelhança no sonho. (A pulseira também existe, na verdade, e estou olhando para ela). O preço estava fixado em uma etiqueta branca e escrito em caneta azul: 80, 17. Acho. Pensei ser caro, mas pensando bem, não era. Havia muitos colares de boa qualidade ali. Alguns deles queria para mim, mas resolvi comprar e pedi para embrulhar para presente, daria para minha mãe. Um bom presente de dia das mães. Ou mesmo que eu não esperasse até lá, ela merecia e ia gostar. Acho que tinha um cachorro sassaricando pelo chão. Um maltês ou algo do tipo. O tempo todo em que estive olhando os colares na caixinha, havia alguém do meu lado. Uma amiga, talvez. Não me lembro de seu rosto e não era ninguém que eu pudesse identificar, mas acho que, mesmo levando suas opiniões em conta, tinha certo medo de que ela sentisse inveja do meu achado. Não sei bem. A questão é que, na hora do pagamento, não me lembro mais dela. Recostei-me ao balcão do caixa na dúvida se pagaria no dinheiro ou cartão. Se pagasse no cartão, meu pai poderia ficar sabendo do preço e me xingar. Quem embrulhava e recebia o pagamento era o mesmo moço bem vestido e aprumado que me conduzira até aquele setor de bijuterias. Ele parecia ter funções mais importantes do que empacotar e receber, mas estavam fechando, é verdade. E de certo modo, pareceu-me humilde ele sair de suas posições e fazer aquele serviço. O embrulho não era dos mais glamourosos (um saquinho também rosê, desses prateados por dentro, que já vendem aos montes para embrulharmos presentes), mas considerando que ele não estava acostumado com isso e que estava com pressa... Resolvi pagar no dinheiro, eu acho. O preço final era 84,87 talvez, não tenho certeza dos centavos. Por algum motivo, ainda parecia que eu estava ganhando um desconto por pagar à vista. E pior: eu acreditava nisso. Daí em diante, vá saber o que aconteceu. Acho que lembro de subir ladeiras sob um sol morno e abafado, indo até a casa de minha mãe. Mas isso já pode ser puro devaneio... Essas manias que a gente tem de preencher os sonhos.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Páscoa

Sonhei com o cara perfeito noite passada. Moreno, simpático, inteligente, engraçado. Parece estereotipado? É porque não foi você que olhou direto em seus olhos, derreteu-se com o sorriso dele, viu o brilho daqueles cabelos sedosos e... Existia aquilo a mais. E mais do que ele, eu também era perfeita. A perfeição aqui, nesse sonho, não é aquilo inquebrantável e livre de defeitos até o fim dos tempos. Não é nada imaculado ou divino. Era algo no momento do sonho que me permitia ter confiança em mim mesma e também nele. Confiança para ir àquela festa nem que fosse sozinha. Confiança de que o que eu sentia era recíproco. Confiança. Auto-confiança. E a ida era tão leve. E não era errado mostrar nada. Nenhum sentimento, nenhuma vontade, e eu me encaixava perfeitamente no mundo simplesmente porque me sentia encaixada. Vá saber se eu realmente me submetia a todas às normas sociais. O que eu me lembro é que eu estava fazendo o que eu queria fazer. Eu era eu. 
E por que é tão difícil? Por que sempre parece que eu estou nadando contra a correnteza? O cara, as saídas, os amigos, a profissão...? Acho que do mesmo jeito que não há apenas uma questão, não deve haver também uma única resposta. Não há algo que seja absoluto em si e resolva tudo para sempre. Para sempre é muito tempo e o tudo é muito amplo, tanto que nem o conheço por completo. Ninguém conhece.
Queria que não soasse errado a gente conversando num canto se é isso que nos satisfaz. Queria me desapegar mais dos outros. Queria me amar.